2004-10-24

Monólogos perdidos

Num destes dias de semana, enquanto esperava o comboio que me iria levar a Lisboa, reparei num senhor que chegou meio esbaforido apesar de ainda faltar algum tempo para o comboio... a sua entrada captou o meu olhar e pelo canto do olho estive a estudá-lo. Foi então que percebi que ele não vinha cansado, vinha chateado. Estava a dizer entre dentes um discurso qualquer onde expressava vivamente o seu ponto de vista que pelos vistos era muito distante da opinião do seu interlocutor imaginário! Apesar de fazer um esforço por não vociferar corporalmente, a sua face contorcia-se a cada palavra debidata, os seus olhos reviravam-se em exasperação pura por não se fazer compreender!...
Pensava que era a única que tecia argumentos enormes, que se transformavam em diálogos imaginários quando me quero fazer entender por alguém que imagino que não me entenda. Desenho então mil alternativas que num instante se transformam em acesas discussões co o vazio no desespero de me fazer entender!...
Afinal, nos dias que correm, onde o relógio é o nosso ditador supremo e onde quase ninguém tem tempo para ouvir ou para se fazer ouvir, acabamos por ter monólogos intermináveis, muitas vezes frente a um público anónimo, porque de facto nós somos os interlocutores que nos percebemos e que compreendemos a nossa necessidade imensa de falar e de sermos entendidos!

Sem comentários: