2007-09-25

Ser armadura

A armadura serve como segunda pele.
já perdi a noção da primeira vez que a vesti,
creio que a teci por entre memórias que já não queria,
com linhas rejeitadas de por todos à minha volta,
e com o barulho de fundo de todos os gritos que sempre abominei.

Com a prova terminada, vesti-a e ela tornou-se eu
ou eu tornei-me em parte ela.
Já não está na lista do que levo comigo,
Mas está sempre presente nos meus ossos,
Como uma segunda natureza!

Não deixa pois de me espantar que venhas
do fundo do nada e me desafies a larga-la
como se eu ainda conseguisse ser apenas eu!

2007-09-12

As gotas de chuva

Era já escuro quando entrei no carro hoje depois de um dia extenuante e quando larguei a minha boleia, o meu primeiro impulso foi o de correr para evitar a chuva, quase em automático, como aquelas lições que ficam gravadas no cérebro e que repetimos sem saber o porquê e mesmo sem gostar.
Mas foi nesse mesmo instante que o cheiro meio acre a maresia me encheu as narinas e por um lampejo vi-me a correr descalça à beira-mar! Se amanhã não fosse mais um dia de picar o boi, dava largas e este meu eu: estendia-me de braços abertos à beira-mar, para me lembrar do quanto gosto deste cheiro salgado de o cheirar e do sentir perto!, para sentir cada gota forte a escorregar pela pele como se cada uma tivesse o seu travo próprio, forte, marcante!

2007-09-11

Poder ser lânguida

Vejo por entre a cortina que deixei entreaberta na sala, os relâmpagos que brilham e se fazem notar mesmo que pelo cantinho do olho. Mais longe oiço os rugidos do trovão e quando senti o barulho de granizo nas janelas, apeteceu-me aquele ninho do qual tenho saudades, aquele abraço quente, aquele canto mesmo por cima do ombro forte que me deixa ser menina e sentir-me aconchegada e ter aquele espreguiçar de forma longa como os gatos, só para afirmar que gosto daquele canto!

Mas os trovões ainda marcam a sua presença de quando em vez, mas eu tenho que guardar a languidez só para mim…