2006-12-26

A origem das lágrimas

Sempre fui uma maria chorona.

Pertenço aquele universo que chorou e chora com o bambi. Que já em pequena não conseguia perder um episódio da Candy Candy, mas chorava baba e ranho ao fazê-lo, como se o conceito de nada daquilo ser verdade, não tivesse a miníma importância. Desde que eu o visse como uma verdade próxima, estava tudo estragado!

Ainda hoje, a menos que faça um exercício mental antes, do género “não chorarei em frente a esta gente”, lá vem a torneira, muitas vezes sem aviso prévio!

Há aquelas lágrimas que nascem tranquilas nos olhos, quase sem darmos por elas, são as discretas, mas compatível com o meu exagero, quase todas as minhas lágrimas, sacodem-me o corpo e a alma, o que em certas alturas me leva a ter que dominar o choro, naquilo que chamo: “engole o choro, parva!”. É como se eu só tivesse uma posição para sentir e o volume está no máximo!

Há lágrimas que chegam porque por algum motivo me coloco no centro de um drama e tenho que o carpir para ver se saio dele, como se todos os soluços o empurrassem para fora, como se aquele sacudir que vem das entranhas tivesse o seu quê de mágico. Embora a maioria das vezes ache que apenas consigo que o cansaço chegue mais depressa, anestesiando tudo o resto...

E depois há outras lágrimas que vêm quando o corpo já não se consegue exprimir de mais nenhuma forma, como se fossem a extensão da dor ou do prazer supremo! São as que chegam quase de emboscada e que nos deixam sem espaço para as justificarmos!

2006-12-19

Pequenos nadas que mexem nos pratos

Hoje foi um daqueles dias em que o regresso me saiu furado e ainda assim, correu bem. Perdi o comboio não por estar atrasada, mas porque a sinalética que habitualmente indica os minutos de atraso do comboio que me dariam tempo para comprar um novo bilhete, pelos vistos passaram a ter um qualquer outro significado. Talvez contem os minutos que faltam para o comboio, não vá a malta não conseguir contá-los de cabeça!

Resolvi apanhar um autocarro que deu mais voltas do que eu estava à espera, e nem podia ser de outra forma, claro está! Mas serviu para começar a aplicar as minhas resoluções para 2007 e saber que tenho possibilidade tangível de voltar a fazer teatro. E só esse cheirinho, próximo chegou para me fazer sorrir de mim para mim, como se fosse um bom augúrio para todos os meus planos para o ano que vem!

E depois o descobrir que vou receber uma encomenda surpresa, que embora saiba que deve ser de um fornecedor em jeito de passar a mão pelo pêlo, mas devido ao secretismo utilizado, imaginei logo um pacote espampanante a chegar e a fazer todas as cabeças virarem pelo edificio a fora!:)

E com duas coisas tão pequenas, fui alegre pelo caminho fora, apesar de não ter lugar sentada durante um bocado, ter perdido a aula de dança que queria e resignar-me à compras de natal em falta que, a combinar com o resto, nem correram nada mal.

2006-12-18

No desiquilíbrio dos pratos

Na maioria das vezes gosto de pensar em mim como alguém que segue à risca o “antes morrer de pé, que viver de joelhos”. E a maioria das vezes, acho que o consigo, embora por vezes não saiba bem como. É quase como estar pré-programada para sair ao ataque, à luta... Mas depois há vezes em que vindo do ar vem um daqueles pontapés sem aviso prévio e lá vou eu ao tapete! Sem saber bem de onde veio aquela bota bem puxada atrás... e de um momento para o outro volto a um tamanho minúsculo, como que abandonada numa sala escura, com um peso nos ombros e sem me conseguir mexer e sem perceber o porquê!

E mesmo com a música que trouxe, todas as letras têm uma passagem qualquer que reforça esta sensação imbecil. Como que uma vontade enorme de ter alguém à mão e sentir que não há ninguém...

E depois ouvir uma daquelas histórias da vida real da boca de alguém próximo e sentir um balde de água fria pela cabeça abaixo e um sentimento de estupidez imensa por me ter martirizado sem motivo algum, como se fosse lá o que fosse que me jogou ao tapete, pudesse ter algum termo de comparação!

E eis que pego em mim, nos farrapos que de mim fiz e junto-os para mais um dia de super-mulher!

2006-12-12

Música na cabeça

Há dias assim. Parece que tenho uma banda sonora inteira dentro de mim. Começou ontem ao final do dia, acho. Estava a despachar-me depois da sessão de natação e ao me aperceber do eco ao fundo meio jazz dei por a vestir-me a cantarolar o Fever!

O sentimento pelos vistos ficou comigo. Estou em jeitos de estar com o rádio ligado cá dentro. E há alturas em que ultrapassa o trautear, dando-me vontade de ir dançando ao som da música, estando onde estiver!

Devíamos ter mais dias de andar com música cá dentro!

2006-12-08

Dias de mantra

Assumindo a definição simplista de mantra, como um cântico que quando repetido de certa forma um cântico, vamos recuperar energias, eu tenho um mantra que utilizo quando necessito de me lembrar de certas coisas, de força interior etc... Nesses dias recorro ao Cântico Negro.

Lembro-me de forma muito clara a primeira vez que o ouvi recitado. Na altura não lhe conhecia o nome, nem o poeta. Nada disso ouvi quando entrou aquele professor de história na aula magna. Afinal, naquela altura poesia, era só uma cena daquelas meio chatas que temos que estudar... Mas ao ecoar naquele tom pujante aquele começo do “Vem por aqui”, fiquei suspensa no ar, estando totalmente conquistada por altura do primeiro “não vou por ali”! Sei que cheguei a casa a perguntar de quem era o poema do “não vou por aí”. É claro que com esta definição apenas, ninguém percebeu logo o que queria, mas assim que o descobri, nunca mais o larguei! Assim que vi a antologia poética do José Régio, tive que a comprar e nestes dias de bengala, abro-a e leio em voz alta o Cântico Negro!

2006-12-03

Por Barcelona

Da primeira vez que lá fui, adorei logo a cidade. Passear por aquelas ruas onde a cada esquina, podemos encontrar um prédio que nos faz sorrir por dentro e por vezes ficar de boca aberta! Gostei do facto de colocarem imenso verde mesmo nos prédios, de os ver aproveitar os parques, os jardins e mesmo a praia para correrem, passear os cães, estarem ao final do dia a falar tomando o seu café com leche com a maior das calmas, transmitido a sensação de que sorvem a cidade, o espaço, tudo o que é seu! É esse tipo de sentimento que acho que mais falta nos faz...

Gostei daquele mercado fantástico onde me perco na cor da bancada das frutas, onde só de me lembrar sinto na boca aqueles frutos fantásticos. Onde não posso entrar sem comprar um e uma bela salada de frutas.

Até das ruas estreitas e escuras do bairro gótico, gosto de passear. Perder-me nas sombras de algumas das igrejas fantásticas e simplesmente estar lá!

Jantei num sítio extraordinário que provavelmente não teria visto por dentro, se não fosse num destes eventos, “congresso like”...

Adorei as conversas em inglês e “castelhano like” , conhecer novas pessoas com as quais criei empatia, deixar Lisboa e os fardos deste lado de cá. De me ter dado vontade de escrevinhar pedaços de papel, como se tivesse medo de perder a ideia, o sentido e o sentimento... em parte foi como se uma parte de mim tivesse acordado de uma sonolência longínqua.
E agora ficar perdida com ela, por já não me lembrar como a mantenho...