2008-10-30

Não me rasgar

Se pudesse largar-me, hoje a minha pele ficaria enrugada, gasta, pronta para o cesto da roupa suja. Pudesse eu livrar-me dela dessa forma, e tê-lo-ia feito, sem hesitar! Como se rasgar-me, implicasse ser outra ou talvez poder ser eu mesma... sobretudo estar eu também longe daqui! Essencialmente, para poder respirar um outro ar e saber nesse instante que eu ainda aqui estou! Que apesar do carrossel, que apesar da minha pele me pesar, que apesar desta ânsia de me largar para poder ser, eu continuo aqui!
E constatar que é das tuas palavras singelas que me chega a calma para me colocar em mim novamente, apesar da pele amarrotada, apesar do peso, apesar da ausência, é a um mesmo tempo reconfortante e assustador!

2008-10-20

Sem ponte, nem margem

Pelas alturas em que tenho a certeza de estar não só na mesma margem que tu, mas no mesmo espaço/tempo, causa-me uma estranheza imensa, quando te acho na outra margem sem ter lembrança de ter tomado o caminho de ponte alguma, sem mesmo a ver por perto, sem ver caminho algum de volta! Parece-me tão irreal a separação, que chego a questionar a proximidade!
E de um arrombo só, é como se precisasse do teu
ar, para voltar a perder a noção do espaço, do tempo e saber que sem ponte, vamos estar na mesma margem, como se de facto nunca tivessem existido margens!

2008-10-05

doce embalo

Já me tinha esquecido do sentimento doce de ser embalada. Acho que o tinha perdido, no meio da imagem de fortaleza. Não deixa de ser engraçado, que os esquecimentos assim, tornam tudo tão distante... o eco de me deixar ser embalada, ou mesmo de me dar espaço para o ser, perdeu-se no embate da minha muralha!
Sei bem que apesar de me achar necessitada de remendos, contar com os teus dotes de costureiro, que desconheço, avançar sem ter a linha própria linha e agulha à mão, é um salto quase impossível, mas ver que estarias disposto a ser alfaiate por uns momentos, é o suficiente para esquecer o a minha caixa de costura!
E é no ver-me remendada por suturas que não são as minhas, que me relembra o gosto doce de me deixar estar, de me perder só porque me apercebi que posso! De não querer voltar a subir a muralha, porque aqui, neste embalo doce durmo melhor, respiro melhor e talvez chegue mesmo a ser melhor!