2005-09-24

Como se pede desculpa a Bastet?

Cheguei tarde....muitas horas em cima acabam por tornar o corpo pesado... mais do que gostariamos de admitir, tenho certeza! O rapaz brincava encantado com a gata que, como feminina e dengosa que é, estava toda deliciada alheia ao seu habitual factor de desconfiança. Pedi para me deixar pelo menos arrumar o carro e quando saí lá estavam os dois a convencer-me permanecendo mudos que a devia adoptar, tão linda, tão desamparada... A utilizar todo o poder do olhar pelo seu silêncio!
Levei-a ao colo com receio da recepção que os meus dois felinos lhe fossem fazer! O meu gato mediu-a bem, aumentando o seu tamanho para o dobro, rosnando baixo a cada vez que a sentia perto e defendendo po bem mais precioso da casa: a sua comida e a sua dona! Senti o cansaço todo em cima, como se o dia tivesse ficado ainda maior e não me achei com forças para servir de ONU durante tempo indeterminado. Com peso na alma tive que a ir deixar novamente na porta do prédio com mais comida e água!

Vim a pedir desculpa a Bastet baixinho pois sei que havi pedido esta oportunidade e agora não me sentia com forças para a levar até ao fim!Que fiel tão reles!

Mas apesar de tudo recebi algum descanço! Descobri que de facto há uns supostos donos que a deixam liberta, solta e tão necessita de colo que dá dó! Mas existem! Não tenho que a ter sózinha na minha consci~encia como um preo gravado fundo no coração! Só tenho que convencer a criança que a nin, como a ouvi chamar precisa de mais coisas que libertinagem!

2005-09-18

Um tuga a admirar o fogo de artifício

Este mês, em Belém, Lisboa recebe todos os sábados um festival de fogo de artifício. É sempre bonito. A torre de Belém no rio com a luz a cair sobre o Tejo e a iluminar o padrão dos descobrimentos dá uma atmosfera de quase encantamento, tudo seria magnifico, não fosse a maneira peculiar que este povo lusitano arranjou para ver o fogo!
Pouco passa das 23h quando se comete a verdadeira loucura de passar pela marginal num sábado à noite. Ao contrário do que seria de esperar, a confusão não estava a 24 de Julho e quando se pensa que o pior já passou, o trânsito pára. Só luzes de stop, só vermelho pela marginal a fora, tanto quanto se consegue ver! Só podia ser um acidente... Mas eis que no horizonte surgem aquelas luzes no ar e o no primeiro lampejo que tive pensei que se tratava do habitual ritual de embasbaque normal, que estava tudo a andar a passo de caracol para não perder pitada do espectáculo enquanto faziam o caminho. Mas ao passar pela zona de Belém em si percebi que era algo ainda mais sui generis! Como estava tudo cheio com filas imensas de carros parados em todo o pedaço de passeio, a alternativa a seguir foi utilizar uma das faixas de rodagem com os quatro piscas ligados como se assim tudo desculpassem, com os filhos sentados do lado de fora das janelas do carro, ou com os casais abraçados entre o pouco espaço livre até ao carro seguinte, completamente alheios à fila ao lado que a custo tentava andar e seguir viagem!A cereja no topo chegou pouco depois com meia dúzia de policias no meio da estrada, a dar ordens de seguimento à faixa da esquerda como se a fila da direita estar parada a ver o fogo de artifício, para lá de usual fosse expectável. E lá estavam eles com cara de poucos amigos, não para quem estava parado a entupir tudo, mas para quem apesar de tudo teimava em utilizar a estrada para a sua principal finalidade: viajar!

2005-09-13

Os Golias de hoje

Rezam as lendas que Golias era um tipo de mau génio... além disso era enorme! Tudo nele metia medo: as suas dimensões, a cara sempre fechada incapaz de uma feição suave... Além disso era soldado, esperava-se que lutásse até à morte . Principalmente, até à morte dos outros! Quem lutava com os Filisteus todos os dias podia não olhar com alegria o confronto com o Golias mais uma vez, mas bastava olhar para o campo de batalha que já sabia onde se encontrava aquela figura decomunal e em caso de necessidade extrema, a fuga poderia ser sempre equacionada! Todos os movimentos poderiam ser feitos tendo em linha de conta a posição de Golias!

Os Golias de agora, são muito mais dissimulados! Não são maiores nem mais feios que nós e não são particularmente mal encarados, muito pelo contrário... têm sempre um sorriso leve nos lábios que serve de armadura para o que se passa na mente deles. Muitos andam fardados iguais a tantos outros, andam devagarinho pela surdina, à escuta do que lhes dá jeito. Não precisam de usar armadura para o campo de batalha, pois qualquer localização encerra em si uma possível luta em silêncio, só reconhecida por eles! Lutam pelo que não fazem, escondidos nas falhas alheias, protegidos pela ausência de acção dos outros!

Os Davids de agora têm que continuar a passar a mensagem de que não passam de humildes pastores mas nem tão pouco o uso da funda lhes é facultado! Têm que aprender a reconhecer os Golias engravatados, enquanto devem apenas estar ocupados com o rebanho a pastar. É como ser lobo e pastor ao mesmo tempo, sem nunca o poder mostrar!

E nas organizações de sempre, no lufa-lufa de todos os dias, erguem-se novos exércitos de Golias muitas vezes invisiveis uns para os outros, num crescimento mudo, quieto! Talvez um dia, sem pedras para os afastar, será a inércia de todos que os levará à extinção!

2005-09-11

Mais uma oferta a Bastet

Eram horas de sair, estavam à minha espera... Já estava atrasada com o tempo que demorei a esconder o cansaço dos traços da semana desgastante que se acumulam sempre ao fim de sexta com um peso estonteante! Mas antes de fechar a porta lembrei-me da promessa feita: Faltava a oferta de hoje e assim enchi uma garrafa pequena de água e comida seca. Na saída do prédio lá coloquei diligentemente água nova e mais comida na tigela... virei-me devagar para sair para o carro e lá estava ela. Mais uma vez debaixo de um carro, mais uma vez a estudar-me!
Caminhei devagar para ela, falei baixinho... deixei-lhe um pouco de comida... fugiu um pouco mais para trás. Naquela noite soube que não era ainda a altura dela... sussurei-lhe que lhe tinha deixado comida e que a podia comer quando quisesse que eu ainda não estava preparada para desistir!

2005-09-07

Já só falta a egípcia!

Ao fechar a porta da garagem vi um vulto debaixo de um carro, quase uma sombra… podia ter ignorado, mas não consegui! Tive que verificar se era alguma delas. Acabei de gatas na estrada até ver a egípcia desconfiada! Prometi-lhe que voltava a descer com comida e assim o fiz. Mas ela é mais bravia, independente… aquela hora ainda havia muitos carros a chegar, muitas vozes a ecoar… não a voltei a ver.

Pensei que os donos da outra a tinham encontrado e que pelo menos essa tinha tido sorte. O saldo não era mau de todo!

Já tarde a minha vizinha veio devolver-me a tigela de água a dizer que tinha adoptado o Pantufas, afinal era um ele e que as suas gatas nem o tinham recebido mal. Disse que não o conseguiu votar ao abandono com aquele miado desesperado de mimo a ressoar na cabeça dela!

Disse-lhe que tinha visto a outra e que por isso tinha deixado mais água e comida e ela voltou a descer e a meter lá tudo! Um pequeno selfservice para que ela possa ir comer se tiver fome!

Lembrei-me novamente dela debaixo do carro. Daquele olhar entre o assustado e o desconfiado. Da indecisão entre o fugir e ir ao encontro da minha voz.. Saí novamente à rua na esperança de a ver, mas como ser altivo que é e já pouco habituado a seres de 2 patas simpáticos, não apareceu. Chovia levemente, imaginei-a no seu recanto de noite, enroscadinha e na medida do possível feliz… doeu-me não ter decidido ficar logo com ela, talvez não a volte a ter tão perto… Mas enquanto a comida e a água forem desaparecendo, eu vou continuando a deixar oferendas aos deuses antepassados da sua linhagem! Talvez Bastet a conduza novamente até mim se isso for o melhor para ambas!

2005-09-06

Uma pantufa e uma egípcia!

Eram cerca das 23h de ontem quando cheguei a casa vinda do jantar de aniversário da minha mãe. Chamou-me a atenção o facto de estarem pessoas à entrada do prédio de luz acesa, como que a ver algo, mas não liguei… assumi que se podiam estar a despedir. Mas afinal haviam outras estrelas: 2 gatinhas que por ali estavam e que queriam tanto colo e atenção que vieram atrás dos meus vizinhos na ânsia de terem colo!

Uma era preta, roliça de meias brancas toda dada ao mimo e com coleira o que me fez esperar que estivesse perdida e que não tivesse sido simplesmente abandonada à sua sorte! Essa parecia mesmo uma pantufa perdida, desnorteada… tinha tanto medo de sair do prédio que me levou a pensar que provavelmente isso já lhe tinha acontecido de outras vezes.

A outra era mais alta, magra com umas orelhas pontiagudas que lhe davam um ar de gata egípcia! Era mais nova, mais dada à exploração e brincadeira e fez uma festa só com um pedaço de papel!

Mas qualquer das duas vinha às nossas mãos receber festas sem pudor algum, lançando o seu charme na esperança de conseguirem uma conquista! Mas tanto eu, como os outros vizinhos já temos 2 felinos em casa e eles não gostam muito de partilhar o espaço com estranhos só porque sim! Tive medo da reacção que iria ter em casa e imaginei o pior quando me apanhassem fora de casa… cheguei a pensar que podíamos cada uma ficar com uma…

Ainda voltei atrás para lhes deixar água e um caixote não fossem não ter melhor poiso para dormir… obriguei-me a fugir logo de seguida para não ver aquele olhar de quem pede tudo, pedindo no fundo tão pouco!

Ao descer hoje, não sabia se as queria ver lá ou não… mas inevitavelmente espreitei… a comida e água tinham desaparecido assim como elas. Espero que tenham encontrado pelo menos um canto mais aconchegante para dormir! Depois à noite logo se vê se voltam a dar um ar de sua graça…