2008-08-28

Fora eu peixe...

... e poderia prolongar a sensação de estar dentro de água. Prolongar o sentimento de me desligar daqui, prolongar o ser apenas eu!
O sentimento de pertencer ao ambiente envolvente, de conseguir mergulhar em pleno no mesmo, de aceitar o abraço da água com a certeza absoluta que na entrega vou boiar pelo simples facto de falarmos a mesma linguagem!

2008-08-26

Sem linguagem

Que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, já dizia Saint-Exupery, o que me apanhou de surpresa foi que a ausência de palavras pudesse dizer muito mais! Não ligar ao marcar do tempo, preencher o espaço apenas connosco, e saber cá dentro entender cada sinal, sem precisar de estender a comunicação a uma mera articulação de palavras, sentir que vai existir simplicidade em cada gesto com linguagem própria!

2008-08-18

Soldado sem contrapasso

No meio da praça, com todas as fardas iguais e em formação, todos os soldados parecem um só. É preciso tocar a corneta, para dar inicio à marcha e só aí.... no meio de todos os passos acertados, que apenas uma farda se desloca fora de tempo, fora de formação, sem contrapasso possível para readquirir a marcha!
E que bem que se nota, este ponto, sozinho, tão diferente! Que bem que entretém os olhos cansados do marasmo que a marcha repetida ao som da mesma corneta de sempre, impõe.
Mas será que por detrás destes olhos entretidos, haverá a consideração sobre o peso que as botas, assim tão fora de marcha, têm? O peso que as mesmas assumem nos pés do soldado que não o é?

2008-08-11

Cruzes

Se é verdade que poucas vezes consigo tirar o fato de bombeiro, outros dias há em que sem o pedir, sinto o peso de uma cruz em cima, como se soubesse que a mesma já aterrou ou vai aterrar dentro em breve nos ombros de alguém perto... É um peso incomodativo pois nunca sei de onde ele vem, é um peso que não sendo meu, o sinto latejar sem controlo, até que o mesmo ganha uma pulsação só sua, independentemente do que possa ou não fazer.
E se reconhecer a cruz nos ombros dos outros me traz o alívio de tomar conhecimento da sua origem, troco-o pelo preço de saber que o pouco tempo em que a carreguei em mim e me enervou, em nada te aliviou o peso dela! E às vezes não sei qual destes pratos da balança mais me pesa!

2008-08-06

Peter Pan perdida

Sempre gostei do Peter Pan, do guarda-roupa verde a lembrar o Robin dos Bosques e sobretudo daquele truque fantástico de cruzar os céus apenas com os braços abertos, como se pudéssemos planar apenas porque temos pensamentos felizes! Isso e ter uma terra do nunca, mesmo ao virar da esquina de uma qualquer nossa nuvem vizinha, já aqui ao lado! As lutas com piratas, dispenso, mas tudo o resto, até ter uma fada própria, ocupou a minha imaginação durante muito tempo! Lembro-me de me colocar de pé sobre a cama, apoiar-me em bicos dos pés e sonhar que ao esticar os braços já estaria a voar!
E mesmo agora, quando à minha volta, parece que já não há mais «meninos perdidos», em certos recantos, ainda que só meus, haverá sempre uma "Terra do Nunca", à esquerda de uma nuvem, sempre em frente!

2008-08-02

À espera da bonança...

Ou a criar força para fazer a minha própria bonança já que sou tão pródiga em criar as minhas próprias tempestades!...
Mas por algum motivo imbecil, tenho sempre mais facilidade em me deixar arrastar pelos meus cenários tempestuosos e agrestes, que esperar pelo sol que vai brilhar, ou acreditar que isso vai acontecer, ou ter a certeza que sou capaz de o fazer acontecer! Geralmente tenho que chegar à paz com o meu lado artístico que me dita: «Better to have loved and lost than never to have loved at all» para me recordar das outras minhas partes... de acreditar, que sou forte o suficiente, que seja qual for a pele a vestir, seja qual for o jogo que tenha que jogar, tenha eu que usar todas as minhas facetas ou não, é só a mim que cabe escolher o próximo passo a dar! Pode ser que ainda tenha dias de tempestade a aguentar, posso mesmo fazer chover ainda um bocado à minha volta... mas seja qual for o cenário a seguir, eu vou interpretar um dia solarengo, quanto mais não seja, porque eu o mereço!