2006-05-27

O talhante em cada cirurgião

Já há muito tempo que cheguei à conclusão que nunca na vida conseguiria ser médica. O que em parte me aborrece pois o sonho de ir pela AMI trabalhar em sítios distantes fica desde logo morta à nascença!

Há mais de uma semana fui ao oftalmologista para verificar se estava tudo bem e para que ele me confirmasse aquilo que já desconfiava: “isso enquistou e vamos mesmo ter que tirar. Mas é coisa rápida, não custa nada. É só cortar tirar isso e dar uns pontinhos. Não custa nada!” E lá ficou tudo marcado e esta quinta lá fui eu pela hora de almoço. A minha mãe foi ter comigo, depois de muits insistências, pois já sabia que não ia propriamente custar nada, mas sabiamente ficou calada.
Tudo estava bem até ouvir a mulher do lado falar em agulhas. Agulhas??! Agulhas nos olhos? Isso não me soou muito bem... mas lá me repeti a mim mesma que era uma coisa pequena e que por certo não ia custar nada! Respirei fundo e levei todas aquelas gostas no olho direito até o mesmo deixar de me responder... até estar enevoado e até me sentir tão calma que todos os picos que me percorriam o corpo passaram a parecer fios a sair pelo meu corpo e num instante passei a ser a Alice a cair pela toca do coelho! E se eu adormecesse? E se me aconchegasse e simplesmente apagasse ? Há tanto tempo que não durmo assim... mas depois parte do meu cérebro disse que a cirurgia era no olho direito e que talvez eu tivesse mesmo que ficar direita e não dormir... não pensar em coelhos brancos apressadas, rainhas de copas e etc...
Lá fui empurrada para a sala de cirurgia a pensar que ia ficar maldisposta. E ficou um gelo de morte e pelo menos na minha cabeça eu disse que estava frio, mas a prometida manta simplesmente não apareceu! Só o médico que reconheci vagamente pela voz a dizer que agora vinha a injecção. Como assim, injecção agulhas?? Ok, respira, fica quieta, não queres que ele se engane, pois não? E Eis que começa... deixei de lá estar por certo... discussão versa o cartaz do rock in rio versus super bock... oiço falar em hemorragia, o estômago do assistente ronca ferozmente ao meu ouvido e eis que surge novamente a rapariga, uma compressa, imensa fita e de novo o empurrão.
Acabou... e já não estou na toca do coelho, mas também não posso dizer que tenha visto chapeleiros malucos diferentes dos que habitam Lisboa em dias normais! Mas este picar irritante, este arranhar! Como raio não custa nada??! A definição a aplicar deve ser a do paciente e não a do médico! Cortar a eito não deve ser difícil se não somos nós a ser cortados, mas um pouco de humanização à coisa talvez não fizesse mal! Assim algo como: “é uma coisa pequena, mas é natural que lhe faça confusão”...

Lá porque no manual de incisões é tudo straight forward, não é preciso aplicar as regras do homem do talho, certo?

2006-05-21

Um assalto de ti

Como uma vez disse à única psicóloga que tive (uma “relação” que não durou muito tempo), há homens que estão muito bem arrumados em prateleiras, com uma classificação adequada ao papel que têm para mim, na minha vida. Por exemplo, um professor é alguém com quem espero aprender, não está nem sequer a meio caminho de se tornar em alguém que me pode assaltar os sonhos de maneiras “menos próprias”. Quando o tentam fazer, regra geral, deixo de ser tão eu na esperança da coisa se arrumar sozinha e que tudo volte às prateleiras devidas! Ou como me disseram uma vez, lá vou eu do 8 ao 80 em menos de um fósforo!

Não posso dizer que sejas professor, mas sempre foste meio pai, meio mentor, meio guardião. Já reparei que estás mais perto que isso, e não posso dizer que saiba em que prateleira e talvez seja em parte isso que me incomoda. Isso e o facto de alguém me ter dito que talvez tu já soubesses a que prateleira quisesses pertencer e que nem os laços do supostamente correcto te prendessem! Teria que desejar que esse laços fossem de facto muito fortes para te manterem “arrumado”.

Depois disto, parte de mim passou a querer ler todos os teus gestos e palavras de um modo quase analítico, enquanto estranhamente, ou talvez não, uma outra parte de mim, quase se regozija com tudo isto! Como se de um momento para o outro a desarrumação das prateleiras fosse quase doce apesar do aspecto destoante que tem! E às vezes, não sei se sou eu que te chamo a dormir ou se és tu que vens assaltar o meu estado dormente! É nessas alturas em que me deixo ficar em território neutro sem querer saber quem chamou quem e apenas desfrutar do facto que estiveste comigo!

Não te ver

Já há algum tempo que não te via. E ontem não posso dizer que te tenha visto, apenas sei que eras tu porque mo disseram. Se contar a alguém que passei por ti, falei com quem ia teu lado e não reparei que eras tu, por certam não acreditam! Mais uma vez eu ia num sentido e tu no outro. Parece que estamos sempre em contra-caminho. A única coisa que não se repetiu desta vez foi o quase esbarrar em ti e só no último momento nos desviarmos e eu aperceber-me que és tu (sim, porque eu tenho cá para mim que apesar da repetição tu nem te apercebes que sou sempre eu!). Se calhar foi a ausência disto que não me levou a ver que eras tu! Mas disseram-me que tu deste mostrar de me reconhecer de certo modo... (será??!)

Gosto de pensar que num dos nossos quase choques um dia não vamos seguir em direcções opostas... Mas isso é para lá de um "suponhamos", é uma espécie de sonho, de desejo, da cantilena que me digo a mim mesma em surdina quando te encontro e ainda me sinto só. Algo que está longe,muito longe...

2006-05-14

Nem só de noite vivem os monstros

Sei que a mataram. Eles bem que me dizem que não, mas eu sei. Sinto-o. Sei também que houve outros, apenas não me consigo lembram de quantos, quem eram... sei que devia, mas não consigo! Eles olham para mim e afirmam categoricamente que não, que ela foi atropelada! Mas eu sei que não. Apetece-me gritar que sei que me mentem, mas a voz não sai.

Olho para eles e mesmo em pleno dia e ainda vendo a sua forma de todos os dias, começo a vê-los crescer para os seus 2 metros, o seu tom cinza mármore, as suas cabeças calvas, com as asas de morcego a nascerem das omoplatas e de garras medonhas. Sei que estão todos à minha volta, mesmo os que não consigo ver. Que tirando aquela zona de terra de ninguém onde vejo corpos humanos que ainda não estão transformados, sou eu e eles! Só eu me posso ajudar!
Fico indecisa. Provavelmente deveria ajudar os outros. Ainda não são monstros, quero acreditar que não são. Mas talvez seja só uma questão de tempo. Talvez a minha luta por eles seja em vão... Mas não me consigo arrancar dali para fugir. Não sem ter a certeza se os outros estão bem ou se estão perdidos para sempre!

Acordei.

Agora sei que estão longe. Por enquanto não me podem fazer mal. Mas sei que ainda vão voltar. A luta não acabou!

No dia seguinte não os reconheço, mas sei que nos querem mandar para a guerra, que nos querem usar como carne para canhão. A mesma história de sempre: os grandes mandam os pequenos andar na lama para não se sujarem e estes sujam-se para ver se têm direito a tomar banho para descansar! Sei que não quero ir combater. Aquela não é a minha guerra, já há muito que perdi a vontade de lutar. Que o faço em automático. Mas não consigo não estar expectante enquanto procuro o meu nome na lista... Deveria poder desertar, sair dali. Mas mais uma vez não consigo e não sei porquê.

Acordei.

Não fui destacada. Mas a guerra ainda não acabou! Ainda vai vir o dia em que tenho que vestir a armadura!

2006-05-12

Pudesse eu chorar assim...



Acho que hoje sou eu que preciso de adormecer com o smile no meu ouvido!:)

Inércia

As lapas apenas conhecem
a rocha que as sustém,
a água que as embala
e daqui tudo tiram
para uma vida regalada!
Alheias a tudo o resto
sortudas se consideram
até a sua final balada!

As conchas que largadas se vêem,
perdidas se sentem.
Pois boiar não sabem
e o empurrar do mar
nem sempre é doce.
Mas o seu olhar
já não se esquece,
do que por ele passou!

E porque não saber ser peixe?
O mar saber montar
e por ele a fora nadar?

A música de ontem

Porque me ajuda a relativizar, a não esquecer o quanto nos apoquentamos com coisas pequenas e porque ontem quando a cantarolei no caminho para casa, lembrei-me o quanto ela podia fazer sorrir um certo alguém!


Smile
Though your heart is aching
Smile
Even though it's breaking
When there are clouds
In the sky,
You'll get by
If you smile
Through your fear and sorrow
Smile
And maybe tomorrow
You'll see the sun
Come shining through
For you

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear
May be ever so near
That's the time
You must keep on trying
Smile
What's the use of crying?
You'll find that life
Is still worth-while
If you just smile
Smile

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear
May be ever so near
That's the time
You must keep on trying
Smile,
What's the use of crying?
You'll find that life
Is still worth-while
If you just smile
Keep on smiling
Oh yeah
Smile
Never, never, never stop smile
Smile

2006-05-08

Chegar...

Voltei hoje à lufa-lufa. Saí tarde e mais tarde cheguei a casa... cansada a pensar na sopa que deixei feita ontem (felizmente). A rua na confusão do costume com toda a gente em casa a jantar...

Vi ainda um bom pedaço do episódio da Medium e tendo em linha de conta que estamos a falar de uma série de entretenimento, vamos partir do pressuposto que o dom da Allison Dubois é real, assim como o facto do mesmo ser em certa medida hereditário. A par da história principal, a filha do meio encontrou um cão abandonado que levou para casa. E estava muito entretida a tomar conta do mesmo. O pai levou-o ao veterinário e ficou muito consternado ao descobrir que o cão já detinha uma venerável idade e pouco mais de uma semana de vida, a sua maior preocupação era como o ia dizer à filha. Quando se resolvem a fazer comunicação, ela responde simplesmente: “Eu sei. Assim que o vi. Ele é muito velhinho. Não disse nada porque não te queria ver triste!” Como se naquele pedaço, naquele sub-texto ela dissesse: “Mas achei que lhe podia dar miminho e não o deixar morrer sozinho na rua!”

Simplesmente delicioso! Já valeu a pena o sprint final da chegada a casa!


2006-05-04

Educação e Condução

São quase 19h de um dia solarengo. Já não faz calor, aliás sinto um pouco de frio... devia ter escolhido um guarda-roupa menos arejado.

Não resisti e fui ao Santini. Afinal tirei os dias para mim e já que não posso apanhar muito sol, pelo menos que faça outras coisas que me sabem bem! Ainda por cima tinha feito há pouco tempo uma aula de total condicionamento... por isso o mal não deveria ser muito. Aproveito para ir à casa de banho... já não aguento mais. Bolas! Está ocupada... respira e aguenta... é só mais um bocadinho... e lá saiu a senhora que me diz com um ar muito contrito “pardon” e eu sorri pensar que também não era caso para tanto. Afinal, não tinha demorado assim tanto tempo... é claro que quando entrei na casa de banho e respirei, tudo ficou claro! Bem que devias pedir perdão sim! Foge! Mas se fosse uma tuga o mais certo era ter demordo mais numa tentativa de enfraquecer o cheiro e ciente que muito provavelmente essa atitude não tinha surtido efeito, fugia a sete pés para que nunca mias a visse!

O gelado já está no fim... toca de andar tudo para trás até o carro... até tenho frio nos pés, nunca mais lá chego! E só me faltava não conseguir atravessar a estrada à conta de um automobilista nervoso! É claro que tive que espreitar para a ave rara: um toyota yaris, com uma cadeirinha para crianças atrás com um bebe de não mais de ano e meio e um motorista com apenas uma metade de mão no volante que partilhava com uma garrafa de cerveja enquanto a outra segurava o telemóvel onde deveria estar a manter uma conversa muito interessante para nem ter reparado na passadeira!