Há mais de uma semana fui ao oftalmologista para verificar se estava tudo bem e para que ele me confirmasse aquilo que já desconfiava: “isso enquistou e vamos mesmo ter que tirar. Mas é coisa rápida, não custa nada. É só cortar tirar isso e dar uns pontinhos. Não custa nada!” E lá ficou tudo marcado e esta quinta lá fui eu pela hora de almoço. A minha mãe foi ter comigo, depois de muits insistências, pois já sabia que não ia propriamente custar nada, mas sabiamente ficou calada.
Tudo estava bem até ouvir a mulher do lado falar em agulhas. Agulhas??! Agulhas nos olhos? Isso não me soou muito bem... mas lá me repeti a mim mesma que era uma coisa pequena e que por certo não ia custar nada! Respirei fundo e levei todas aquelas gostas no olho direito até o mesmo deixar de me responder... até estar enevoado e até me sentir tão calma que todos os picos que me percorriam o corpo passaram a parecer fios a sair pelo meu corpo e num instante passei a ser a Alice a cair pela toca do coelho! E se eu adormecesse? E se me aconchegasse e simplesmente apagasse ? Há tanto tempo que não durmo assim... mas depois parte do meu cérebro disse que a cirurgia era no olho direito e que talvez eu tivesse mesmo que ficar direita e não dormir... não pensar em coelhos brancos apressadas, rainhas de copas e etc...
Lá fui empurrada para a sala de cirurgia a pensar que ia ficar maldisposta. E ficou um gelo de morte e pelo menos na minha cabeça eu disse que estava frio, mas a prometida manta simplesmente não apareceu! Só o médico que reconheci vagamente pela voz a dizer que agora vinha a injecção. Como assim, injecção agulhas?? Ok, respira, fica quieta, não queres que ele se engane, pois não? E Eis que começa... deixei de lá estar por certo... discussão versa o cartaz do rock in rio versus super bock... oiço falar em hemorragia, o estômago do assistente ronca ferozmente ao meu ouvido e eis que surge novamente a rapariga, uma compressa, imensa fita e de novo o empurrão.
Acabou... e já não estou na toca do coelho, mas também não posso dizer que tenha visto chapeleiros malucos diferentes dos que habitam Lisboa em dias normais! Mas este picar irritante, este arranhar! Como raio não custa nada??! A definição a aplicar deve ser a do paciente e não a do médico! Cortar a eito não deve ser difícil se não somos nós a ser cortados, mas um pouco de humanização à coisa talvez não fizesse mal! Assim algo como: “é uma coisa pequena, mas é natural que lhe faça confusão”...
Lá porque no manual de incisões é tudo straight forward, não é preciso aplicar as regras do homem do talho, certo?