E ver um resumo escrito por outros, dá-nos sempre a dimensão que não somos, apesar de tudo, assim tão diferentes.
Divagacoes sobre as noticias que nos tocam e as situacoes do dia a dia que nos despertam pensares ou que simplesmente nos levam escrever...
2007-12-18
Descer ao fundo do poço
2007-12-17
O poder das bruxas
A última bruxa que ouvi, leu-me uma sentença nas mãos, que ainda por cima já foi corroborada por outros aprendizes, que me tem vindo a ecoar na cabeça nos últimos tempos. Desde que a ouvi, que os meus fantasmas ficaram em posição de alerta! Quase como os pelos ficam hirtos, quando sentem a tensão a aproximar-se. E agora que estava descansada, agora que tudo me parecia tão longe de poder acontecer, tinhas que surgir, quase como um furacão, vindo do nada, para abalar tudo… e o problema maior é que eu deixei… baixei a guarda, porque confiei na força do furacão, porque achei que talvez fosse altura da profecia da bruxa se concretizar, que talvez fosse a minha hora… porque apesar de todas as minhas capas, sempre soube que sentia falta das borboletas do estômago, do nó na garganta só de pensar no assunto e no meio disto, olhar para baixo dos pés e saber que voar vai ter um preço caro! Constatar que mesmo antes de descolar, já estou no chão e a mal dizer ter deixado a profecia assombrar-me.
A frase da bruxa vai continuar, pendente no ar, sem concretização. Só espero que da próxima não a deixe propagar-se a ponto de me deitar ao chão novamente! Afinal, ela pode ser a bruxa, mas quer a mão e quer a vida são minhas! E se não tenho capacidade de ter mais brechas, não posso por o flanco a jeito!
2007-12-05
Enterrar-te
Já há algum tempo que sei que te enterrei. Já o sabia, antes da cerimónia que escolhi fazer este ano. Escolhi-a, por me lembrar da alegria com que fui tirar o passaporte na expectativa da viagem que iria inaugurar o mesmo com um carimbo colorido. A mesma que esteve sempre perdida no ar, sempre num sussurro das conversas que tínhamos noite fora, nos espólios que trazias na tua mochila, vindo de um sítio qualquer perdido no mundo. Mas nem por isso o carimbo esteve perto de tocar no meu passaporte.
E depois de ter gasto mais lágrimas do que devia, depois de ter sangrado a ponto da cicatriz nunca mais desaparecer, depois de saber há já tanto tempo que ainda que os nossos caminhos se voltem a cruzar, não há linhas que nos possam coser novamente, achei que deveria representar o teu enterro com o símbolo que de certa forma marcou o fim: o carimbo que nunca estreou o meu passaporte!
E meti-me num avião e levei uma mochila comigo e mostrei a mim mesma que mesmo sem ti, eu estava a ter o meu carimbo. Mostrei a mim mesma, que não preciso de ti para fazer uma viagem diferente. Provei que não preciso de bengala e foi aí, na primeira vez que perdi o meu olhar no horizonte, com o sol a bater no fundo, que senti, mais do que soube, que já não tinha mais lágrimas para ti!