2005-08-27

O bombeiro IRS

« (..) e um benefício fiscal "que entraria como despesa de protecção ambiental" e de seguros florestais. (..)»

Quero desde já avisar que pertenço aquele universo de pessoas que tem um respeito incomensurável pela floresta. Adoro passear rodeada de verde e respirar todo aquele ar limpo... mas ao ouve a notícia acim, imaginei a facilidade do cenário de implementação desta solução proposta.

O tio Joaquim sempre viveu n serra. Tinha gosto por todas aquelas àrvores que a sua família sempre tinha cuidado... desde tempos imemoráveis que os eucaliptos lá estavam. Árvores simpácticas que não demoram muito tempo a dar dinheiro outra vez, chieram bem e tudo! A única chatice é mesmo estarem no meio daquele ermo e as pernas já não serem o que eram... só pagando a alguém lá conseguia ver aquele rendimento extra que tanto jeito dava. Nem sempre lá estava, mas as contas apareciam sempre invariavelmente feitas tendo em conts os ans e aquele dinheiro certinho que vinha sempre dar mais um a folga, oferecer algo aos sobrinhos, sentir que não se faz parte apenas daquela terra perdida e que se tem um meio para o resto da família se lembrar de nós...

Mas os dias do tio Joaquim acabaram, como acabam sempre os dias de alguém, um dia... e o sobrinho mais velho, ficou com aqueles eucaliptos no meio do nada, naquele ermo que só quem conhece encontra e sabe quando elas começam e acabam. Pouco ou nada sabia de mata. Toda a vida viveu em lisboa e das árvores sabia que era necessárias e daquelas em particular sabia que davam um acrescento razoavelmente generoso de tempos a tempos! Quando chegou o primeiro ano em que as árvores iram dar mais um pouco de si, apesar do tio Joaquim já ca não estar, começou a investigar ao de leve que deveria saber, convencido que seria coisa de pouca monta e que sozinho daria conta do recado! Quando descobriu que não só não o conseguia, com ia ter que pagar para que lho fizessem, começou a maldizer aquele encargo todo! Pouco ia sobrar para toda aquela trabalheira! E porque raio tinha aquilo tudo que estar ali no meio de nada, esquecido? E que conversa era aquela de limpar as matas? Quem ia sujar o que quer que fosse ali no meio do nada?!

Mas agora neste cenário de pais de cinzas eis que surge uma luz: benefícios fiscais! Claro, ali no meio do nada quem lhe iria verificar se tinah ou não limpo o raio dos eucaliptos? Nem eram capazes de apanhar os médicos e adogados de salário minimo! Era tão fácil que chegava a parecer mentira... afinal a herança do tio Joaquim ainda podia ter utilidade!



2005-08-25

De que te queixas tu de manhã?

Há dias assim. Ou porque durante o sono fomos alvo de fantasmas cuja mensagem não conseguimos captar apesar de termos uma certeza profunda de que eles estiveram a conversar connosco, ou porque de vez em quando nos esquecemos das razões pelas quais não temos nada que inventar cavalos de Tróia, o coração parece que acorda apertado, pequeno, esmagado.

Hoje foi um desses dias para mim. Mas não há nada como levar logo um choque de realidade pela manhã para as sensações ganharem outra razão de ser! Eram cerca de 8:30 da manhã quando não pude descer a minha rua que já estava com carros parados estava alguém deitado na estrada. Um senhor magro, macilento com o mesmo género de roupa que o meu avô vestia. Já tinha sido chamada a ambulância, não consegui perceber se a situação já tinha acontecido há muito tempo ou não. Passando uns minutos o senhor fez menção de se levantar, como que varrido por um embaraço tremendo de se achar naquela situação e de sentir o peso de estar a incomodar e de pouco conseguir fazer sobre o assunto. O seu esforço foi tanto que o ajudaram a levantar pois estava bastante claro que as pernas não lhe iam obedecer o suficiente para que o conseguisse fazer só por si. Enquanto o ajudaram a sentar vi aquele mesmo olhar de abandono total que vi na última vez que vi o meu avô: uma vontade imensa que vem do mais racional que há dentro de nós para tentar fazer o mínimo de comandar o nosso corpo, só para constatar que o mesmo já se recusa a receber as nossas ordens!

Tantos azares que podem estar à nossa espreita e nós ainda insistimos em lutar com os moinhos de vento!

2005-08-24

O sangue humano do puma!

Humano - adj.,
próprio do homem;
relativo ao homem;bondoso;
benigno;
compassivo.

Sábado de manhã na RTP1 estava a dar um programa sobre grandes felinos. Nomeadamente o puma na Califórnia e o leopardo na Índia. A apresentação destes animais grandiosos, infelizmente, não foi sobre a melhor luz. De tal forma que não vi o programa até ao fim. Para quem conhece minimamente a vida de um predador de topo e que necessita de grandes espaços para caçar, deve pelo menos imaginar que o facto da espécie humana não contente em lhe roubar espaço, torna quase toda a terra improdutiva para o pasto dos que lhe servem de alimento, não deve tornar a vidas dos bichos nada fácil. E como já dizia a minha avó: “ a fome aguça o engenho” e colocando-me na pele deles, imagino que em desespero de causa e com crias para sustentar, carne a mexer-se deve ser classificada como alimento elegível, por muito estranho que seja! Na reportagem em questão o drama era o ataque do puma a uma pessoa: o descaramento! E como se tal não bastasse, o leopardo na Índia foi ainda mais longe e chegou mesmo a caçar uma criança! Concordo que não é bonito e que os pais da criança devem ter sofrido horrores… que não deve de todo ser uma morte simpática!... Mas daí a ouvir “este puma experimentou sangue humano tem que ser eliminado” é demais! Em todas as caçadas que fizeram as estes animais fantásticos, os desgraçados nunca fizeram o oposto e se calhar deveriam tê-lo feito… muitos exemplares da espécie humana tinham desaparecido e provavelmente a terra tinha encontrado um equilíbrio mais saudável que o inexistente de hoje em dia!

E se olharmos para os adjectivos de bondoso, benigno e compassivo, eu diria que o puma já o herdou nos seus parâmetros, sem necessitar de o provar no sangue! Já o homem que o tem dentro de si, tem muitas mais luas para andar até poder ostentar estes adjectivos como seus!