2007-03-11

Areia

Há dias em que acordo e como que vejo o meu dia a ser regido pela areia de percorre uma ampulheta… deixo-me hipnotizar por aquele correr suave, contínuo e tudo o resto deixa de existir, a própria areia toma conta do meu dia, marca a minha existência, até não ver mais nada. Transforma-se em terra, negra, escura, que me envolve como uma semente, perco o contacto comigo, chego a esquecer-me de mim como pessoa… deixo de ser, tudo pára, excepto, todo o tiquetaque associado ao marchar da ampulheta, aos grãos de terra que estão aqui ao meu lado, que me cobrem, que tudo tornam em noite. E de cada vez, é como se este mergulho fosse o primeiro, como se fosse a minha primeira viagem como semente!

Até ao momento em que após receber umas gotas de água reencontro o sol no céu azul, relembro o mar a brilhar à minha frente, e há uma altura em que me lembro que já aqui estive, que já saí da terra, que já havia entrado nela e sobretudo que o ar sempre foi assim tão intenso, tão meu e que nessa altura, como em todas as outras, a areia que ainda marca o tempo, está agora lá ao longe, apenas me lembra que amanhã é mais um dia para deixar o sol brilhar!

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