2007-01-08

Segundo a definição do nosso dicionário, caridade é:

s. f.,
amor ao próximo;
benevolência;
bondade;
compaixão;
esmola;
beneficência;
ant.,
banquete ou bodo aos pobres;
uma das virtudes teologais;
vossa Caridade: tratamento que os Prelados davam aos seus diocesanos;
fazer as -s a (alguém): ajustar contas (com alguém).

Se a isto juntarmos o conceito que o senso comum que por certo invade a maioria das pessoas, espero, imaginar um horário tipo 9 to 5 para a caridade é capaz de ser um conceito estranho, mas há quem o faça sem grande esforço.

Hoje por exemplo, planeei o meu dia em função de aproveitar para dar uma série de roupa. À conta disso fui de carro para Lisboa com uma boa parte da bagageira cheia. É verdade que para não variar não saí exactamente à hora que tinha planeado, há sempre aquelas coisas que dão pelo nome de reuniões e que se resolvem alongar, por muito que coloquemos os patins nos pontos a fechar! Afinal, é em parte por trabalhar que não tenho grande problema em ir renovando o guarda-roupa... digo eu! Que isto de ser gaja, só por si, não dá conta do recado!

Depois de me ter safado bem ao trânsito, lá faço o meu desvio, toda contente por ter conseguido encher uns 3 sacos, lá vou eu carregada, quase a tropeçar num dos sacos para passar por um aglomerado de pessoas de me observam a passar sem serem capazes de ajudar, apontar o caminho, etc... Quando vejo um homem a sair do centro, pergunto logo onde posso deixar os sacos e eis que a criatura olha calmamente para o relógio e responde:

  • Só até às cinco e meia.

  • Como, digo eu? - provavelmente já de sobrolho franziod.

  • Só posso receber roupa até às cinco e meia. Agora já não posso.

  • Assim , vai ficar difícil – resolvi responder ao invés de algo mais venenoso, na linha de pedir desculpa por ter resolvido ser caridosa fora da hora do expediente!

  • Tem sempre o lar da ba vontade ali à frente na rua, do lado esquerdo, como quem segue para a igreja.



É claro que não encontrei logo o raio da rua já ali à frente, por ser escura, estreita e fora do caminho e espanto, dos espantos: não há luzes de néon a assinalarem: “Recebemos roupa”!

Depois de mais umas voltas, lá conseguir dar com sítio finalmente e deixar lá os 3 sacos, seguindo as indicações de um senhor que a julgar pela fala e pela cadeira de rodas, deve ter sido vitima de uma trombose ou algo do género.

Quando até um simples acto como o dar roupa para distribuição, passa a ser complicado e cheio de entraves, porque nos espanta tudo o resto? Como esperamos uma evolução do país, por artes mágicas, quando os pequenos actos cívicos estão sempre em cantos retorcidos e de preferência debaixo do tapete?

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