2006-05-14

Nem só de noite vivem os monstros

Sei que a mataram. Eles bem que me dizem que não, mas eu sei. Sinto-o. Sei também que houve outros, apenas não me consigo lembram de quantos, quem eram... sei que devia, mas não consigo! Eles olham para mim e afirmam categoricamente que não, que ela foi atropelada! Mas eu sei que não. Apetece-me gritar que sei que me mentem, mas a voz não sai.

Olho para eles e mesmo em pleno dia e ainda vendo a sua forma de todos os dias, começo a vê-los crescer para os seus 2 metros, o seu tom cinza mármore, as suas cabeças calvas, com as asas de morcego a nascerem das omoplatas e de garras medonhas. Sei que estão todos à minha volta, mesmo os que não consigo ver. Que tirando aquela zona de terra de ninguém onde vejo corpos humanos que ainda não estão transformados, sou eu e eles! Só eu me posso ajudar!
Fico indecisa. Provavelmente deveria ajudar os outros. Ainda não são monstros, quero acreditar que não são. Mas talvez seja só uma questão de tempo. Talvez a minha luta por eles seja em vão... Mas não me consigo arrancar dali para fugir. Não sem ter a certeza se os outros estão bem ou se estão perdidos para sempre!

Acordei.

Agora sei que estão longe. Por enquanto não me podem fazer mal. Mas sei que ainda vão voltar. A luta não acabou!

No dia seguinte não os reconheço, mas sei que nos querem mandar para a guerra, que nos querem usar como carne para canhão. A mesma história de sempre: os grandes mandam os pequenos andar na lama para não se sujarem e estes sujam-se para ver se têm direito a tomar banho para descansar! Sei que não quero ir combater. Aquela não é a minha guerra, já há muito que perdi a vontade de lutar. Que o faço em automático. Mas não consigo não estar expectante enquanto procuro o meu nome na lista... Deveria poder desertar, sair dali. Mas mais uma vez não consigo e não sei porquê.

Acordei.

Não fui destacada. Mas a guerra ainda não acabou! Ainda vai vir o dia em que tenho que vestir a armadura!

Sem comentários: